Rodrigo Augusto Prando

O legado de 2022: seus marcos e consequências

Por Rodrigo Augusto Prando
Graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia, professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Fui instado a escrever um artigo nos seguintes termos: "quais os marcos que o ano de 2022 deixará para o Brasil dos próximos anos". Final de ano traz, em seu bojo, reflexões principalmente em duas dimensões: a retrospectiva do ano que se finda e as perspectivas para o ano vindouro. Tratando-se aqui de uma panorâmica e, por isso mesmo, parcial retrospectiva, quais os fatos concretos da realidade que deixaram sua marca?

Na sociedade brasileira, 2022 será, certamente, lembrado pela realização de uma das eleições mais tensas e polarizadas de sua história. A escolha do presidente da República colocou dois líderes carismáticos e, não raro, com elementos populistas: Bolsonaro e Lula. Ao final e ao cabo do processo eleitoral, Lula foi vitorioso por uma margem de pouco mais de dois milhões de votos, ou seja, nossa sociedade encontra-se fraturada, cindida e ferida por uma disputa assentada no ódio, rejeição, medo e muita fake news e teorias da conspiração.

Politicamente, Bolsonaro teve, em seus quatros anos, uma ação política que chamei, alhures, de presidencialismo de confrontação. Encontra-se no DNA do bolsonarismo o confronto, a escolha de inimigos, internos e externos, reais e imaginários. Sem isso, sem a transformação do adversário em inimigo, o bolsonarismo perde sua coesão e engajamento. O presidente sempre soube disso e foi assaz habilidoso em inflamar sua base de apoio mais radical. O marco, neste campo, encontra-se nas falas e ações de Bolsonaro que, durante anos, colocou em xeque a segurança das urnas eletrônicas e, no limite, as instituições e a própria democracia. Nunca houve, anteriormente, teste tão rigoroso para a democracia, que foi tensionada fortemente, mas não conheceu uma ruptura. Ademais, a força do bolsonarismo e seus ataques ao sistema eleitoral levaram a outro marco: o protagonismo do STF, do TSE e de seus ministros.

Acusando o golpe da derrota eleitoral, o presidente manteve-se em silêncio, recolhido, com problemas de saúde. Some-se a isso um ímpeto antidemocrático de muitos que, para além de se manifestarem pacificamente, bloquearam rodovias, atentaram contra as forças de segurança e insistem em clamar por uma ruptura advinda de uma intervenção militar. Lula foi, não faz muito, diplomado e tal fato desencadeou novas situações de agressão à lei, com carros incendiados, veículos e prédios depredados. Talvez, isso tudo, somado, mostre-nos uma marca profunda no tecido social: não somos, ainda, substancialmente democráticos e nem conseguimos produzir líderes que ganhem corações e mentes, líderes que se afastem do populismo, do patrimonialismo, do salvacionismo e do mandonismo.

Na cultura brasileira, na conjugação de esporte e nacionalidade, a bandeira do Brasil, a camisa da seleção de futebol e as cores verde e amarela, foram, novamente, direcionadas à torcida pelo time do Brasil na Copa do Mundo. Infelizmente, mais uma vez fomos eliminados e isso gera outra marca: o nosso futebol, considerado uma arte, reclama, agora, mais ciência, técnica e compromisso efetivo com a retomada da importância deste esporte para o País.

Por fim, um marco fundamental: a importância da ciência que, pesquisando, conseguiu entregar a vacina que continua imunizando e derrubando os casos graves e as mortes por Covid-19. Política, esporte e ciência: três marcos para os próximos anos.​

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